Deixamos a barra do Jucu com a certeza de que sentiremos
muitas saudades. Partimos em direção à Aracruz, cidade capixaba que facilita o
acesso às praias de Barra do Riacho, Água Boa e Barra do Sahy, além de abrigar algumas
comunidades indígenas.
O
percurso foi dividido em alguns trechos que baratearam em torno de R$5,00 o
custo final de cada passagem. Tomamos o ônibus 609 a R$2,55 na Barra do Jucu
até o terminal urbano de Itaparica. De lá, sem pagar outra passagem, fizemos
baldeação para o ônibus 501, que nos levou até o terminal Jacaraípe. Novamente
sem pagar outra passagem, pegamos o ônibus 805 para a cidade Nova Almeida, onde
descemos próximo ao guichê da empresa Águia Branca. O ônibus que de lá saía por
R$3,00, nos levou até Santa Cruz por uma linda paisagem de praias rasas, mares
calmos e recifes. Descemos no guichê da empresa Expresso Aracruz, localizada no
interior de uma padaria e ali compramos a passagem a R$5,85 cada até a cidade
de Aracruz
.
Ao
chegarmos na cidade, fomos até a pousada São Jorge, acompanhados por um morador
local. A pousada fica próxima ao centro comercial Oriunde, possuí alojamentos
individuais por R$25,00 ou suítes para casais por R$45,00, com café da manhã
simples incluso. A pousada é asseada e confortável, entretanto passamos apenas uma noite
hospedados, pois logo na primeira tarde, em busca de informações sobre
refeições baratas, encontramos dois artistas de rua que nos levaram para
conhecer a ocupação urbana do movimento anarquista Pântano Revida, onde
estavam acampados.
A
ocupação oferece semanalmente um calendário de atividades culturais, possuí
biblioteca, estúdio instrumental e horta comunitários, de forma a articular-se
positivamente com os moradores locais. Seguindo os preceitos anarquistas, o
espaço é mantido muito bem organizado por um coletivo flutuante ou local
autônomo. A maior parte da comida provém do recicle diário em supermercados ou
restaurantes próximos, a lenha para o fogão é coletada em descartes de
construções, a água é adquirida em bebedouros públicos, toda matéria orgânica
vira composto e todo lixo reciclável é encaminhado.
A
comunidade Pântano Revida nos recebeu muito bem, mas é importante atentar sobre
a dinâmica de acolhimento de viajantes, pois o espaço não é um meio de
hospedagem, salvo casos de indicação de militantes ou participação no
movimento.
No dia
seguinte de nossa chegada ao Pântano Revida, fomos até a aldeia indígena Pau
Brasil, comunidade que resiste fortemente aos avanços devastadores da produção
de eucalipto pela empresa Fibria, antiga Aracruz Celulose. Existem diversas
linhas de ônibus que levam até a estrada de entrada da aldeia e o percurso,
rodeado por eucaliptos, custa R$3,80. Depois de descer no ponto, caminhamos por
uma estrada de terra em boas condições por cerca de 20 minutos. Ao chegarmos na
aldeia tivemos a oportunidade de sermos apresentados ao vice cacique Marcelo,
ao cacique Valdeir e ao representante da Associação Cacique Liderança Genildo.
Todos foram muito receptivos e nos contaram sobre seus costumes e tradições
mas, sobretudo, sobre a luta, processos, dificuldades e vitórias em relação à
indústria de papel. Visitamos também espaços onde existiam aldeias que foram
tomadas pela indústria papeleira, Barra do Sahy e praia de Água Boa, onde está
sendo construído o estaleiro de navios que já é responsável pelo desmatamento da
vegetação costeira além do futuro desaparecimento da bela praia de pesca e
banho.