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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Alcobaça - BA



              Partimos de Itaúnas em direção à Alcobaça, enfim cruzando a fronteira entre o Espírito Santo e Bahia. Tomamos um ônibus da viação Mar Aberto às 4h30 da madrugada para Pedro Canário por R$ 8,15. A quilometragem não é longa, entretanto a viagem em acomodações muito precárias durou 2h30min por uma estrada que passou por diversos acampamentos e assentamentos sem terra. Em Pedro Canário, BH, pegamos um ônibus para Alcobaça por R$ 10,73, viagem com duração de 40min.


                Ao chegarmos na cidade, percebemos que os arredores e as praias estavam vazias e muito sujas, o que nos desagradou muito. Descobrimos também que o único camping existente na cidade estava desativado, nossa sorte foi encontrar um comerciante argentino acompanhado de sua esposa colombiana que nos disponibilizaram toda a infraestrutura de seu quiosque para que acampássemos na beira da praia.

Fotos - Itaunas, ES





Itaúnas - ES



Despedimo-nos dos amigos feitos em Aracruz e partimos em direção ao carnaval de Itaúnas. A vila fica a 261 km da capital e é possível acessa-la de ônibus partindo de São Mateus ou Conceição da Barra. Tomamos o ônibus partindo de Aracruz com destino a João Neiva por R$ 4,90, viagem com a duração de aproximadamente 30 minutos. Em João Neiva, pegamos o ônibus até Conceição da Barra por R$ 15,84. Cometemos um erro que pode custar muito caro a quem viaja com poucos recursos financeiros: saímos da cidade de origem no meio da tarde e por essa razão, chegamos por volta de 00h00 em Conceição da Barra. Nesse horário, além de não saírem mais ônibus até Itaúnas, onde planejávamos passar alguns dias, nenhum dos campings pôde nos atender e todas as pousadas já estavam com os preços de carnaval, o que significa valores bastante elevados. Em períodos festivos os nativos têm o costume de alugar os quartos de suas residências, de forma que acabamos alugando um quartinho com colchões no chão e banheiro compartilhado por R$ 40,00 por casal, o pior custo benefício até então.

Conceição da Barra nos pareceu ter praias bastante interessantes e movimentadas, talvez em outro período nos chamasse a atenção para a visitação. Entretanto, como em diversos outros destinos, a cidade promove um carnaval como os que se encontra em qualquer outro lugar, repleto de carros com o som super potente no último volume, multidões de turistas aglomeradas e consumo excessivo de álcool, fatores que na maior parte das vezes geram outros desagrados, como brigas e os famosos ¨mijões¨ que despejam sua bebida sem nenhum pudor em ruas e paredes de concreto, deixando sua marca com um odor nada agradável.

Por esses motivos não permanecemos quase nada na cidade, que como dito anteriormente, nos pareceu bastante bonita. Partimos logo cedo em um ônibus da empresa Mar Aberto para a vila de Itaúnas, percurso que dura cerca de 40 minutos e custa R$ 6,05. Em alta temporada, existem ônibus praticamente de hora em hora, porém fora desses dias a frequência de ônibus diminui bastante. 


Chegamos à curiosa vila de Itaúnas e logo nos apaixonamos pelo lugar. Nos alojamos no camping Hippie Sara, um local muito agradável com ótimas instalações de cozinha e banheiros pela diária de R$ 20,00 por pessoa. Como ficamos todo o carnaval, conseguimos um desconto com o qual pagamos a diária de R$ 10,00 por pessoa
 
 Expusemos nossa produção artesanal na feira da cidade graças ao acolhimento dos feirantes locais e flutuantes já instalados, mas foi caminhando pela praia repleta de visitantes oferecendo cadernos completamente produzidos à mão que nos mantivemos financeiramente durante toda a nossa estadia na cidade.
 
As praias que conhecemos nos arredores da vila são maravilhosas. Costa Dourada, situada a 40km de Itaúnas por uma estrada de terra em ótimas condições, possuí falésias em sua orla que fornecem generosas sombras para os visitantes sem guarda-sol, além de uma paisagem estonteante. Riacho Doce, localizada a 8km pela mesma estrada que leva à Costa Dourada, em estações chuvosas, é o encontro do rio de Itaúnas de águas pretas, devido à alta concentração de minério benéfico à pele, aos cabelos e às unhas, com o mar. Como visitamos a cidade em dias secos, a paisagem era composta de um mar de cores verdes e azuis de um lado e um rio de aguas pretas desaguando em uma pequena lagoa do outro. Os bares locais são interessantes talvez mais pela ossada de baleias provavelmente encalhadas nas costas e por suas placas divertidas do que por sua gastronomia propriamente dita. 






A mais impressionante, em nossa opinião, é a praia de Dunas. O princípio desgastante do percurso caracterizado por uma subida íngreme de areias finas e muito quentes é transposto pela grande formação de dunas brancas e amareladas que se descobrem no topo do primeiro morro. A paisagem é estonteante e fica ainda mais incrível quando, caminhando em direção a praia, desponta no horizonte de areia, o mar claro de Itaúnas.


 Entretanto, o que se tornou o ponto turístico mais visitado da região, é na verdade uma catástrofe ecológica ocasionada pelo ser humano: as dunas cobrem quase completamente a antiga vila de Itaúnas. Apenas um pedaço de parede de pedra e a ponta da primeira igreja da cidade continuam a vista, emergindo da areia. Nos impressionamos muito com a história e para saber mais, pesquisamos sobre no acervo da biblioteca do Parque Estadual de Itaúnas, graças à disposição dos monitores que lá trabalham. Tivemos acesso à matérias de jornais publicados na época do soterramento e logo depois, além de uma tese de mestrado muito interessante.


Entre a antiga vila de Itaúnas a as formações de dunas que sempre existiram, havia a vegetação restinga que protegia a cidade do avanço da areia carregada pelos fortes ventos do norte, constantes na região. Entretanto, em 1942 aproximadamente, a área verde começou a ser desmatada por motivos não claramente definidos. De qualquer maneira, é nessa época que se inicia a comercialização intensa de madeira no país. Seguindo o avanço do desmatamento, a areia cobriu primeiramente o cemitério e a igreja, forçando seus moradores a construírem um novo cemitério e igreja mais afastados da entrada de areia. Entretanto, a areia continuou cobrindo a cidade e em 1970 a última família residente na vila abandonava sua casa. Curiosamente, na década de 70 acontece o declínio da comercialização de madeira no país. Moradores da antiga vila explicam o ocorrido com crenças religiosas, maldições de santos, padres, crianças abandonadas e bichos fantasiosos. De qualquer maneira, ademais de dados históricos e científicos, as dunas que encobrem a antiga vila está repleta de poesia. Para maiores informações, existe um documentário chamado Itaúnas – Catástrofe Ambiental (podemos enviar por e-mail) e Rogério Medeiros possuí fotografias impressionantes.


Ainda em Aracruz, no contexto da visita à aldeia indígena Pau Brasil, nos indicaram, para a continuidade do trabalho de documentação de movimentação social de resistência, a comunidade quilombola Angelim I, situada à 5km de Itaúnas, em direção a Conceição da Barra. A comunidade, assim como a aldeia, sofre com a devastadora instalação e manutenção da empresa Fibria, antiga Aracruz Celulose. Assim que chegamos fomos muito bem recebidos por Claudentina e seu filho Teresino, uma das referências de engajamento que trazíamos. Teresino e sua mãe nos contaram com um discurso extremamente claro e organizado as estratégias e condutas da empresa para desapropriar terras historicamente pertencentes à comunidade.

Além disso, ilustraram a consequência dessas ações, tais como o enfraquecimento do movimento através de propostas chamativas, mas ineficientes, além da inutilização de terras e seca de lagoas devido ao plantio de eucalipto, paisagem predominante no estado. Foi incrível a semelhança entre os relatos dos integrantes da aldeia e dos integrantes da comunidade, apesar das particularidades de cada luta. Mais uma vez lembramos que o produto do material coletado nessas visitas será disponibilizado em breve no formato de um documentário.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Aracruz - ES


Deixamos a barra do Jucu com a certeza de que sentiremos muitas saudades. Partimos em direção à Aracruz, cidade capixaba que facilita o acesso às praias de Barra do Riacho, Água Boa e Barra do Sahy, além de abrigar algumas comunidades indígenas.

                O percurso foi dividido em alguns trechos que baratearam em torno de R$5,00 o custo final de cada passagem. Tomamos o ônibus 609 a R$2,55 na Barra do Jucu até o terminal urbano de Itaparica. De lá, sem pagar outra passagem, fizemos baldeação para o ônibus 501, que nos levou até o terminal Jacaraípe. Novamente sem pagar outra passagem, pegamos o ônibus 805 para a cidade Nova Almeida, onde descemos próximo ao guichê da empresa Águia Branca. O ônibus que de lá saía por R$3,00, nos levou até Santa Cruz por uma linda paisagem de praias rasas, mares calmos e recifes. Descemos no guichê da empresa Expresso Aracruz, localizada no interior de uma padaria e ali compramos a passagem a R$5,85 cada até a cidade de Aracruz
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                Ao chegarmos na cidade, fomos até a pousada São Jorge, acompanhados por um morador local. A pousada fica próxima ao centro comercial Oriunde, possuí alojamentos individuais por R$25,00 ou suítes para casais por R$45,00, com café da manhã simples incluso. A pousada é asseada e confortável, entretanto passamos apenas uma noite hospedados, pois logo na primeira tarde, em busca de informações sobre refeições baratas, encontramos dois artistas de rua que nos levaram para conhecer a ocupação urbana do movimento anarquista Pântano Revida, onde estavam acampados.



                A ocupação oferece semanalmente um calendário de atividades culturais, possuí biblioteca, estúdio instrumental e horta comunitários, de forma a articular-se positivamente com os moradores locais. Seguindo os preceitos anarquistas, o espaço é mantido muito bem organizado por um coletivo flutuante ou local autônomo. A maior parte da comida provém do recicle diário em supermercados ou restaurantes próximos, a lenha para o fogão é coletada em descartes de construções, a água é adquirida em bebedouros públicos, toda matéria orgânica vira composto e todo lixo reciclável é encaminhado.


                A comunidade Pântano Revida nos recebeu muito bem, mas é importante atentar sobre a dinâmica de acolhimento de viajantes, pois o espaço não é um meio de hospedagem, salvo casos de indicação de militantes ou participação no movimento.


                No dia seguinte de nossa chegada ao Pântano Revida, fomos até a aldeia indígena Pau Brasil, comunidade que resiste fortemente aos avanços devastadores da produção de eucalipto pela empresa Fibria, antiga Aracruz Celulose. Existem diversas linhas de ônibus que levam até a estrada de entrada da aldeia e o percurso, rodeado por eucaliptos, custa R$3,80. Depois de descer no ponto, caminhamos por uma estrada de terra em boas condições por cerca de 20 minutos. Ao chegarmos na aldeia tivemos a oportunidade de sermos apresentados ao vice cacique Marcelo, ao cacique Valdeir e ao representante da Associação Cacique Liderança Genildo. Todos foram muito receptivos e nos contaram sobre seus costumes e tradições mas, sobretudo, sobre a luta, processos, dificuldades e vitórias em relação à indústria de papel. Visitamos também espaços onde existiam aldeias que foram tomadas pela indústria papeleira, Barra do Sahy e praia de Água Boa, onde está sendo construído o estaleiro de navios que já é responsável pelo desmatamento da vegetação costeira além do futuro desaparecimento da bela praia de pesca e banho.


                Documentamos em vídeo e áudio os relatos, material que resultará em um documentário que em breve será disponibilizado.

Últimos dias em Vitória e Vila Velha


                Ao contrário de primeira impressão que tivemos sobre Vitória, a cidade mostrou além dos atrativos históricos, belas praias. Conhecemos Curva da Jurema, a Praça dos Namorados – um bom local para artesãos venderem seus trabalhos – e a praia de Camburi.

                Dia 2 de Fevereiro é dia de Iemanjá.

                Seguimos até a praia de Camburi, onde está localizada uma famosa imagem em pedra da protetora dos navegantes, no intuito de vender artesanatos e assistir à festa de adoração. Fomos surpreendidos por uma caminhada de devotas vestidas abundantemente com rendas brancas, flores, monumentos nas areias, dança ao som de tambores e entoadas de capoeira, de forma que, percebendo a movimentação religiosa com certa imparcialidade, a festa foi um espetáculo estético incrível de se presenciar.


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Fotos - Praia da Concha, Barra do Jucu - ES





Fotos - Praia da Barra, Barra do Jucu - ES






Fotos - Trem de Ferro, Belo Horizonte - MG à Vitória - ES.







Barra do Jucu, Vila Velha - ES


Amanhecemos em Vitória e logo descobrimos que a cidade não tem muita beleza natural a oferecer. Apesar de litorânea, o único contato da capital do Espírito Santo com o Oceano Atlântico é um grande porto, que como qualquer outro porto, poluí o mar e deixa mal cheirosas as proximidades. O centro da cidade possui diversas construções histórias tombadas, o que nos pareceu bastante atraente, entretanto, após uma semana viajando por Minas Gerais, estávamos ansiosos por um banho em águas salgadas.





Começamos a busca pelas praias capixabas e nos encontramos com a bucólica vila de pescadores Barra do Jucu. Difícil encontrar palavras para descrever o que estamos sentindo nesse lugar. Chegamos em baixo de chuva acompanhados de um casal de amigos que encontramos na estrada e logo nos deparamos com a enorme receptividade, simpatia e respeito dos pescadores locais, que imediatamente nos ofereceram suporte para qualquer coisa que precisássemos. Encontramos um ótimo lugar para armarmos nosso acampamento, à beira da Praia do Jucu, ao lado da Praia da Concha, próximo aos dois únicos quiosques do local. Um desses quiosques, "Autas Ondas" (sim, se escreve com "u"), pertence ao simpático Ignácio, morador local que nos acolheu de braços abertos.



O acampamento na praia é permitido como deveria ser em qualquer espaço pertencente à Marinha, que nunca aparece para proibir a ocupação do espaço. Seguindo o princípio de bom senso para não atrapalhar o comércio local que aos finais de semana costuma receber muitos visitantes que consomem nesses quiosques e ocupam as poucas sombras disponíveis na orla, os moradores da região afirmam com muita clareza e veemência política que a praia é de todos, de forma que em pouquíssimos momentos sentimos que estávamos invadindo o espaço dos banhistas e trabalhadores ao montar acampamento, utilizar os banheiros e tomar banho nas duchas de água doce. Percebemos uma relação de apropriação e coletividade espacial que, infelizmente, não creio que encontraremos em muitos outros lugares.



Um quesito importante para esse tipo de acampamento é a segurança. Na Barra do Jucu nos sentimos tranqüilos, entretanto é sempre bom conversar com alguém que possa ficar de olho na barraca enquanto se está fora. Evitar deixar objetos para fora da barraca durante a noite e cadeado na barraca são algumas sugestões. 


As refeições podem ser feitas a um preço acessível. Existem restaurantes com pratos feitos que servem duas pessoas por R$10,00, além de padarias, mercados e mercearias. Existem refeições frias muito práticas e saborosas e além disso, pode-se encontrar um local mais calmo e preparar uma refeição quente: aprendemos aqui a fazer o peixe cozido no papel alumínio enterrado na areia. Muito saboroso.


 Grande parte da população local vive da pesca marítima. A praia vive cheia de pescadores, esperando o momento certo de jogar a rede na água, temperamental, na maior parte do tempo. Se der sorte e tiver disposição, é possível ajudar os pescadores a puxar a rede e ganhar alguns peixes pela ajuda prestada. Atenção! Isso não é um atrativo turístico, mas o meio de sobrevivência dessas pessoas, portanto não recomendamos se dispor a ajudar apenas pela graça ou apenas pelo peixe. Esse é um trabalho coletivo que exige bastante esforço físico de todos que estão participando dele.



Trem de Ferro, Belo Horizonte à Vitória



De Belo Horizonte – MG a Vitória – ES, existem 526 km a serem percorridos via BR262. As empresas de ônibus que fazem esse trajeto são: São Geraldo, Itapemirim e Expresso União, a um valor médio de R$85,00. Existe porém, uma outra opção para quem pretende gastar menos dinheiro e possui mais tempo: o trem de ferro mantido pela empresa Vale. O percurso entre as duas cidades via ferrovia possui 600 km e leva em torno de 13h, tempo estimado de viagem que pode variar. 




São duas as opções de classe de vagões: classe executiva no valor de R$82,00 e classe econômica a singelos R$56,00. A viagem é sem dúvida impressionante, tanto pela beleza do percurso quanto pela quantidade de pessoas que o trem comporta.


Partimos em classe econômica as 7h30 da manhã, esse é o único horário para o embarque em Belo Horizonte. Passamos por diversas estações para embarque e desembarque de passageiros, todas paradas em torno de 2 a 4 minutos cada. A principal utilização do trem é o transporte de moradores das cidades que compõem o trajeto. Como acontece apenas uma viagem por dia, os vagões costumam estar lotados. O trem possui ainda dois vagões lanchonete, sendo que em um deles existem mesas e cadeiras que podem ser utilizadas para realizar as refeições. Os valores da lanchonete não são os mais amigáveis tendo em vista a escassez de muitas opções dentro de um trem em movimento. Na maior parte das paradas em pequenos vilarejos entre as minas de extração de minério, existem crianças e mulheres que passam correndo pela parte de fora dos vagões com cocadas, geladinhos e águas engarrafadas em pets de refrigerante, o que nos fez refletir sobre a questão de que o trem passa por ali apenas uma vez por dia e mesmo assim as famílias se organizam para vender seus produtos por R$1,00 ou R$2,00. De qualquer maneira, a dica é: leve sua própria refeição!




Chegando em Vitória, já as 21h30, não encontra-se hospedagem com facilidade próxima à estação ferroviária. Entretanto existe um terminal de ônibus logo em frente à estação. Ali pode-se tomar ônibus para Campo Grande ou Vila Velha, pólos turísticos que oferecem algumas opções de hospedagem.




Fotos - Ouro Preto, MG